A Câmara dos Deputados está uma festa danada, como diria nosso antigo Posto Ipiranga. Foi um tal do povo do centrão fazendo manobras para fazer valer o voto secreto na PEC da Bandidagem, ops, da Blindagem. Foi Hugo Motta votando a urgência do projeto da anistia dos golpistas, mas parece que tem pegadinha do nome do relator (os bolsonaristas que lutem). E, mesmo assim, vou abrir, na verdade, com Davi Alcolumbre, a estrelinha-mor do Senado (e que, no fim, é quem vai manobrar todos esses assuntos).
A situação no Senado é a seguinte: Alcolumbre teve um piriri, não foi trabalhar ontem e hoje voltou em um momento “cansei”. E o Dudu que se cuide, que sobrou para ele (por isso nosso título). Vem que te conto tudo.
A assessoria do Davi Alcolumbre divulgou ontem que o senador não ia presidir a sessão porque estava com uma indisposição estomacal (isso, darling, o piriri não foi só licença poética). Aí uns bolsonaristas resolveram cutucar a onça com vara curta e Davi voltou atacado, e resolveu desabafar:
“É a primeira vez que vou falar sobre isso e vou começar a falar toda semana. Não dá para eu ver todos os dias um deputado federal, do Brasil, eleito pelo povo de São Paulo, lá nos Estados Unidos, instigando um país contra o meu país. Nunca falei sobre isso, mas está na hora de começar a falar. Não dá para aceitar todas essas agressões calado.”
E ainda falou que está cansado disso de todo mundo ficar falando mal de todo mundo, de senadores acorrentados à mesa do Senado para que não se trabalhe (digamos que, ao longo do ano, Davi colaborou bastante para não se votar nada também), de gente que só quer saber de falar mal do Judiciário, defender anistia e pedir impeachment dos Supremos. E que ninguém quer falar das coisas do Brasil, a começar por uma medida provisória sobre tarifa de energia para os pobres que quase venceu sem os parlamentares aprovarem.
Viu? Não falei que foi um momento “cansei”?
E o que fez Davi efetivamente? Além de avisar que vai começar a falar mal do Eduardo Bolsonaro, também botou a PEC da Blindagem no lugar dela: em uma tramitação dentro de um rito normal, daquele jeitinho lento, e mandou o projeto para a Comissão de Constituição e Justiça (nada de voto de urgência). E a anistia, como todo mundo já sabe, Alcolumbre quer fazer a sua própria proposta, que não inclui uma anistia ampla, geral e irrestrita.
E é isso, BRASEW, aquele momento em que um presidente do Senado que tem um histórico nada bom do Orçamento Secreto, um histórico not good da sua condução da Comissão de Constituição e Justiça, que só quer saber de explorar petróleo na Foz do Amazonas, nem que tenha que emparedar o governo, vira, de repente, não mais que de repente, a voz sensata que defende os interesses dos brasileiros.
Anistia meia-boca?
Foi um tal de acordo para cá (se alguns petistas votassem a favor da PEC da Blindagem, cairia a anistia), de acordo para lá (o PT não deu todos os votos combinados e foi um auê. Mas o PL garantiu tudo, até o voto secreto). Teve uma manobra discutível para permitir o voto secreto depois que já tinha sido reprovado. E, no fim, tudo isso fazia parte da negociação sobre votar ou não votar a urgência da anistia. E eis que a anistia entrou mesmo na tal pauta urgente que foi aprovada por 311 votos, bem mais do que os bolsonaristas esperavam.
Quando um projeto entra na pauta de urgência, significa que ele não segue o tal rito normal que Alcolumbre mencionava há pouco. Um relator é escolhido pelo presidente da Câmara, o texto é feito por este relator e, depois, o projeto vai diretamente para votação no Plenário (e, mesmo sendo urgente, pode demorar semanas para ser votado).
O que acontece é que não dá para saber se foi mesmo o governo que foi derrotado ou se foram os bolsonaristas. Hugo Motta explicou que a votação era só para a urgência e não se comprometeu nem com o teor do texto, nem com quem seria o relator do projeto (que é quem vai fazer o texto).
Vai ter o que no texto? Uma anistia ampla, geral e irrestrita que chegue a Bolsonaro ou apenas redução de penas? Até o Lula andou falando hoje com sua base no Congresso que apoiaria uma redução de penas. E a outra pegadinha para os bolsonaristas é o nome do relator. Até o fechamento desta edição, circulava que o relator será o Paulinho da Força, do Solidariedade (vocês lembram que ele era o papagaio de pirata do Eduardo Cunha? Será que estou lembrando errado?). E o Paulinho, dizem, é uma pessoa com interlocução no Supremo.
Mas vai saber qual é o acordo que está valendo agora (porque teve um monte de deputado petista apanhando mais do que gato em desenho animado depois de votar a favor da PEC da Blindagem).
E nunca esqueçamos que, no fim, terá que ir para o Senado com um presidente que está pistola com os Bolsonaros.
Gilmar não dorme no ponto
O supremo Gilmar Mendes resolveu perguntar oficialmente para o Congresso e para o Planalto como é que funciona esse tal de impeachment de ministro do STF. E não foi porque ele está com dúvida, não. É que chegaram ao Supremo dois processos questionando a Lei do Impeachment, que é de 1950.
Os pedidos foram feitos pela Associação dos Magistrados Brasileiros e pelo partido Solidariedade (siiiim, o do Paulinho da Força), que querem saber se a lei velha da década de 50 vale mesmo depois da Constituição de 88 — especialmente no pedaço que diz quantos votos são necessários para tirar um ministro da cadeira. Segundo eles, a lei está de ponta-cabeça: para colocar alguém no Supremo, são necessários mais votos de senadores do que para mandar um ministro supremo embora para casa. Enfim, a blindagem do impeachment na pauta.
Tarcísio recua
O governador Tarcísio se deixou lançar candidatíssimo a presidente em um evento de empresários há algumas semanas, com Ciro Nogueira no palco e tudo o mais. Agora ele recuou de novo e disse que é candidato à reeleição de governador. O que fontes me disseram é que o PL do Valdemar já deixou claro que ele só será candidato do centro se tiver o apoio de Bolsonaro e for para o partido. Aí, nesse momento confuso, ele preferiu recuar. Afinal, ele só encontrará Bolsonaro dia 29 (dia que Xandão permitiu uma visita).
E esse Tagliaferro
O ex-assessor de Xandão, o Tagliaferro, depôs em uma comissão da Câmara sobre o processo da Carla Carabina Zambelli e disse que o Xandão sempre queria saber tudo o que ela postava nas redes. Esse Tagliaferro era usado por Xandão para operar fora do rito processual, segundo reportagem feita há meses pela Folha. E esse ex-assessor se uniu ao bolsonarismo, foi morar nos Estados Unidos e agora diz que está até sendo procurado pelo governo americano para falar do ministro supremo. Então tá. A Zambelli segue presa na Itália.
Então é isso, BRASEW. Está tudo acordado no Congresso.
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