A autoproclamada centro-direita se reuniu em peso hoje em São Paulo, em um evento à la Faria Lima patrocinado pela Esfera, empresa de eventos e lobby do João Camargo, para mostrar que Tarcísio é, sim, o candidato a presidente e que Bolsonaro já é passado. Obviamente, na política, tudo pode mudar em 20 segundos (o Sérgio Moro que o diga). Mas quero dizer que, hoje, Tarcísio é mais candidato a presidente do que nunca. Atiçado por Ciro Nogueira, já lançou até slogan: 40 anos em 4.
Mas vamos aos detalhes sórdidos, que é o que interessa, né, BRASEW? Conto do seminário da Esfera, como Tarcísio se lançou candidato (não oficialmente, só para esclarecer), como Valdemar assumiu o papel de defensor do Bolsonaro, o Gilmar atônito com Bolsonaro sendo comparado a Che Guevara, o Lula sem controle sobre a investigação do INSS e termino com o maior aceno de Tarcísio ao Centrão. A Tixa está on fire (quer entrar na nossa comunidade do Zap? É só clicar que você está dentro!)
O luxo do Tangará
Eram 9h20 da manhã quando o luxuoso Palácio Tangará ouvia as primeiras palavras de Ciro Nogueira, o senador que é cacique do PP, dizendo que se enchia de coragem e esperança ao apresentar um dos integrantes do painel: Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo, ou como o conhecemos aqui na Tixa, simplesmente, Thorcísio). Nesta abertura já estava dado o tom de campanha.
Mas, não satisfeito, Ciro foi fazendo com que Tarcísio falasse já de projetos para um eventual governo federal. Tarcísio não se fez de rogado. O governador de São Paulo falou tanto em prosperidade que, a certa altura, pensei até que fosse o Marçal discursando.
Momento JK
Lá pelas tantas, Ciro lança a pergunta fatal: se tivesse que escolher um lema para um futuro governo de centro-direita, qual seria? Estava tudo tão combinado que Tarcísio fez duas coisas. Mandou um recado para Bolsonaro (fingindo que falava de Lula), dizendo: temos que escolher se queremos continuar no passado ou ir para o futuro. E, ao lembrar JK como um homem que pensava o futuro, lançou seu próprio lema de campanha (fingindo que não tinha falado com seu marqueteiro): o tal 40 anos em 4.
Pergunta se em algum momento Tarcísio ou Ciro falaram de Bolsonaro? Nem uma breve citação, darling.
Nota de maldade: lá no distante 2021, Kassab também usou o JK para lançar a pré-candidatura de Rodrigo Pacheco. A candidatura morreu rapidamente. Para quem está perdido, Kassab é secretário de Tarcísio e um forte conselheiro político do governador.
Efeito Marçal
E aqui cabe um registro para a participação de Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo pelo MDB, como uma lembrança do que foi a última eleição municipal. Nunes era a escolha de quem não queria um Bolsonaro, na figura do Pablo Marçal, ou Lula, na figura de Guilherme Boulos. Simbolismo é tudo. Mas as palavras também.
No painel seguinte, os presidentes dos partidos União Progressista (Federação do União Brasil com PP), PSD, Podemos, MDB e PL não deixaram de esconder o clima de Nem Lula, Nem Bolsonaro. E garantiram que estariam todos juntos em um segundo turno.
Kassab, o poderoso do PSD, chegou a dizer que, caso fosse o Tarcísio o candidato, o partido poderia até abrir mão de um candidato próprio. Hoje, um dos principais nomes é Ratinho Jr., governador do Paraná.
Para os perdidos: o União Brasil tem como pré-candidato o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. O MDB também quer lançar candidato próprio. Lançar candidato próprio faz parte do ritual dos partidos para garantir eleições para governador, deputados e senadores. Não esqueçam que a grande vitória vai ser de quem levar as duas casas.
Valdemar Voldemort
Valdemar da Costa Neto, do PL de Bolsonaro, também estava no Tangará, ao lado dos outros caciques da centro-direita, e participou do painel que sucedeu o “lançamento” da candidatura de Tarcísio. Estava de cara amarrada o tempo todo. E fez questão de dizer que Bolsonaro ainda é o candidato.
Mas eu não botaria tanta fé assim que ele realmente ache que Bolsonaro será candidato. Se num minuto o dono do PL fala que existe esperança de Bolsonaro ser o candidato depois que o Kassio Nunes assumir o Tribunal Superior Eleitoral (ele só assume em agosto de 2026), no minuto seguinte ele se contradiz ao dizer que o candidato será escolhido até o fim do ano.
Outro sinal trocado de Valdemar é que ele insistiu em falar de uma pesquisa que mostra que Bolsonaro transfere muitos votos. Um candidato com 8% das intenções cresceria para 38% com apoio do nosso ex. Oras, se ele fosse ser candidato, para que transferir votos, né?
Teatro
Valdemar estava empenhado no teatro e fez questão de dizer que não foi golpe coisa nenhuma. Foram 20 pés-de-chinelo que fizeram uma baderna em Brasília. (As pesquisas da Quaest mostram que a população não concorda muito.)
Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, os eleitores, em sua maioria, avaliam que a prisão domiciliar de Bolsonaro foi justa e vem associada à percepção pública de que nosso ex participou de um plano de tentativa de golpe de Estado. Detalhe: é entre os eleitores de centro que essa percepção está mais consolidada (58%).
Dito isso, Valdemar insiste que o PL vai apoiar o candidato a presidente e a vice que Bolsonaro definir (claro, ele quer continuar fazendo bancadas gigantes via bolsonarismo para abocanhar mais fatias do fundo partidário). Na sequência, garante que Tarcísio falou, em jantar com governadores nesta semana, que, se ele for candidato a presidente, muda para o PL (Tarcísio é do Republicanos).
Pensamento aleatório: queria ver a briga de foice pela vice-presidência. Ciro Nogueira, nitidamente, é candidatíssimo a vice. O Guilherme Boulos, que era da cota vermelha do evento da Esfera, cutucou: Ciro não se elege senador pelo Piauí. (Boulos estava rebatendo o Ciro, que disse que tem certeza que Lula não será candidato porque só fala em doença.)
Só Trump salva
Valdemar explicou por que Trump gosta tanto do Bolsonaro. Porque, quando o Biden ganhou na eleição de 2020, Bolsonaro levou mais de um mês para reconhecer a vitória do democrata.
Valdemar também explicou que Trump não vai parar com sanções, tarifaços e afins. Ele disse que o presidente americano não quer um governo de esquerda (e tudo bem ficar interferindo assim?)
Mas o Trump aceitaria um Tarcísio? O Dudu Bolsonaro disse no zap do nosso ex que ele teve que fazer um grande trabalho para Trump entender que Tarcísio não é a mesma coisa que Bolsonaro.

Che Guevara
Valdemar (só dá ele) passou seis meses sem dar entrevistas, mas não resistiu à multidão de jornalistas que estava no evento. Numa determinada altura, comparou Bolsonaro a Che Guevara. A Tixa, na maldade, perguntou ao Gilmar Mendes (que também estava no evento) o que ele achava da comparação. Sem graça, o supremo respondeu que não era especialista nem em um, nem em outro. O melhor foi o Valdemar esclarecendo que ele não comparou Bolsonaro com o cubano Che (mas Che era argentino).
E o Lula?
O Lula perdeu o controle da investigação do INSS. Além de ter perdido a presidência da CPI e a relatoria, agora o caso que está no Supremo saiu das mãos de Dias Toffoli (que tinha paralisado as investigações) para as mãos do supremo terrivelmente evangélico indicado por Bolsonaro, André Mendonça.
E o tarifaço?
A Advocacia-Geral da União diz que vai contratar um escritório de advocacia nos EUA para reverter as sanções e também as punições da Magnitsky. (Até outro dia, vários escritórios estavam sendo intimidados pelo governo Trump para não pegarem causas contra o governo.)
Emendas Pix
O supremo Dino mandou a Polícia Federal investigar o repasse de quase R$ 700 milhões em emendas Pix feitas por parlamentares em projetos sem planos de trabalho (sem um detalhamento sobre o uso do dinheiro). Os aliados do governo não estão muito contentes, pois entendem que isso vai significar mais atraso nos repasses.
As emendas têm sido usadas como moeda de troca pelo governo para votar projetos do seu interesse no Congresso. Por exemplo, a próxima pauta quente é a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A oposição (leia-se Centrão e bolsonaristas) já prepara bomba fiscal e promete não aceitar aumento de imposto para os ricos (que é a contrapartida do projeto).
A piscada de Tarcísio
Tarcísio disse hoje no Tangará que se gasta muita energia discutindo emendas de 50 bi em um orçamento que é de trilhões. Essa fala soa como música para o Centrão, e eles estão bailando, BRASEW.
Amanhã tem mais.
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