Enquanto os ministros supremos passavam o dia ouvindo a bajulação dos advogados dos acusados da tentativa de golpe, o pessoal no Congresso estava trabalhando com afinco em várias tentativas de outros golpes. É golpe no Supremo com anistia para Bolsonaro. É golpe no povo com o afrouxamento da Lei da Ficha Limpa para favorecer Eduardo Cunha (sim, darling, ele ainda existe). É golpe no Banco Central na tentativa de salvar o Banco Master. É tanto golpe que aqui na TixaNews não sabemos mais nem qual cobertura de golpe devemos priorizar. Socorro, BRASEW.

Golpe no Supremo

Comecemos pela anistia. Xandão acusou o golpe. Logo na abertura do julgamento do nunca antes na história, o supremo ministro já deu a letra. Alô, pessoal do Congresso: anistia é covardia, avisou o Xandão. Não, ele não falou assim. As palavras exatas foram estas aqui:

“A impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação.”

E ainda lembrou que, se alguém der anistia para o golpe (julgamento que começou hoje), precisa se preocupar com essa outra anistia aqui para Bolsonaro (julgamento que ainda virá):

“No curso dessa ação penal, constatou-se a existência de condutas dolosas e conscientes de uma verdadeira organização criminosa que, de forma jamais vista anteriormente em nosso país, passou a agir de forma covarde e traiçoeira, com a finalidade de tentar coagir o Poder Judiciário, em especial este Supremo Tribunal Federal, e submeter o funcionamento da Corte ao crivo de outro Estado estrangeiro.”

Isso, darling, Xandão falava das sanções de Donald J. Trump (J de João, juro). Por lobby de Dudu Bolsonaro, com financiamento do pai, que mandou milhões em Pix para o filho viver nos Estados Unidos. O presidente americano impôs tarifas ao Brasil e ainda tirou o cartão de crédito do Xandão com a Lei Magnitsky. E escreveu que fazia isso porque o julgamento de Bolsonaro era injusto.

Anistia com nome e sobrenome

Bem no dia do início do julgamento de Bolsonaro, o rolê da anistia corria solto no Congresso. O Centrão está tão empenhado em ter Tarcísio como candidato que deputados chegaram a cogitar botar o nome de Bolsonaro em um eventual texto da anistia do golpe, para não haver dúvida de que ele está incluso, e não só a turma aleatória do 8 de Janeiro.

Nota mental: se tiver anistia, tem que combinar antes com o Supremo (como o Xandão deixou claro) e também com o chefe do Senado, a estrelinha-mor do Congresso, Davi Alcolumbre. E também com o Bolsonaro. Se ele tiver anistia agora, vai apoiar Tarcísio pra quê no ano que vem?

Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, o Centrão também não deixou dúvidas de que pode haver anistia para o julgamento do golpe, mas Bolsonaro vai seguir inelegível. E aí entramos no outro golpe do momento.

O golpe na Ficha Limpa

O Senado aprovou no fim da tarde o projeto que altera a Lei da Ficha Limpa. Uma das poucas leis que teve iniciativa popular, diga-se de passagem.

Agora a punição se limita a oito anos e, se antes um parlamentar poderia ficar até duas eleições sem poder se candidatar, agora ele só fica uma de fora do pleito. O projeto foi apresentado por Dani Cunha, filha de quem? De quem? De quem? Eduardo Cunha, sim, ele mesmo. Aquele que mandava e desmandava na Câmara, levou Dilmita ao impeachment, era operador de Michel Temer (tem que manter isso aí, viu?) e acabou preso em alguma das milhares de operações da Lava Jato.

Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, na última hora, o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, mandou uma emenda para o projeto que tira qualquer possibilidade de Bolsonaro ser beneficiado pela mudança na Ficha Limpa. Ele seguirá inelegível.

O golpe no BC

Os líderes do Centrão assinaram um pedido de urgência para votar um projeto de lei que permite que eles, do Congresso, possam demitir diretores do Banco Central.

Segura, BRASEW! E por que eles querem fazer isso agora? Por causa do Banco Master. Esse é aquele banco que vendia CDBs pagando muito rendimento e com marketing de que tinha a garantia do FGC (um fundo que é usado para pagar os títulos quando um banco quebra). Assim, ele foi fazendo negócios bilionários.

Agora, a suspeita da Faria Lima é que há um rombo também bilionário no banco.
O banco, que pertence ao neo-banqueiro Daniel Vorcaro, foi comprado pelo BRB – que é o banco estatal de Brasília. O negócio precisa de várias autorizações (inclusive do BC) para que a operação seja concluída.

Nota mental: o que ouvi de histórias do poder de Vorcaro em Brasília... Não estava sabendo disso tudo, não. Vocês sabiam? Acho que a urgência do projeto reforça o boato.

Enfim, o movimento para a urgência do projeto de lei é encabeçado pelo PP. O PP é o partido de quem? De Ciro Nogueira. E Ciro Nogueira já foi apontado como uma das grandes conexões de Vorcaro no Congresso.

Nota mental: e nem vai dar tempo de falar do PCC na Faria Lima.

O julgamento do golpe

O Paulo Gonet, com aquela voz que não muda de tom, deu o tom do julgamento do golpe. No seu discurso, fez um panorama geral da tentativa de golpe que está longe de se resumir ao 8 de Janeiro. Ele lembrou do fogo em carros e ônibus quando Bolsonaro ainda era presidente e Lula estava para ser diplomado, da tentativa de invasão à sede da Polícia Federal e até da bomba no caminhão que ia para o aeroporto de Brasília na véspera do Natal. Sem contar a reunião com a alta cúpula das Forças Armadas com o tal decreto do golpe.

Ele ainda lembrou da presença de violência ou grave ameaça com a atuação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno das eleições, as aglomerações nos quartéis depois que Bolsonaro perdeu e o nosso ex sem dizer uma palavra para desmobilizar a galera. Ele pediu a condenação de todo o grupo do tal núcleo crucial.

No primeiro dia, advogados de quatro deles foram ouvidos. E foi uma bajulação sem fim feita aos ministros pelos advogados de Mauro Cid, Anderson Torres e o almirante Garnier (o do Anderson Torres não bajulou tanto).

Nunca vi um tribunal tão respeitado no mundo. Ninguém concorda com Donald Trump, pelo visto. Dá uma olhada em tudo o que saiu desse primeiro dia de julgamento de golpe:

Cármen Lúcia é linda, elegante e justa. Fux é simpático e atraente. Flávio Dino é um jovem e possível futuro presidente da República. Xandão é amado até por quem ama Bolsonaro. Zanin é o homem que salvou Lula por sua firmeza.

Sobraram até elogios rasgados para os delegados da Polícia Federal que fizeram a delação do Mauro Cid e nunca, de jeito nenhum, coagiram o ex-faz-tudo de Bolsonaro a dizer nada. Como disse o advogado, cujo nome é Jair: se ele tivesse sido coagido e sua delação não fosse verdadeira, constaria do conteúdo final que Mauro Cid disse que nunca viu Bolsonaro assinar nada?

Mas o Gonet já disse que não é preciso assinar nada para caracterizar a tentativa de golpe. E nesta quarta será dia do advogado de Bolsonaro e dos generais!!!! Segurem-se, que notícias de golpe não faltarão nesta semana!


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