Dudu Bolsonaro adora dizer que só ele, no Brasil inteiro, tem acesso à Casa Branca e que é ele quem influencia sanções, tarifas e essas coisas todas. Mas eis que, em um plot twist carpado duplo, Donald J. Trump (J de João, juro) resolveu ele mesmo abrir a porta de sua casa para receber Lula. Rolou um abraço, rolou uma química, uma coisa e tal, e Trump se empolgou. Durante seu discurso na ONU, não só disse que gostou muito de Lula em 39 segundos, como anunciou que haverá um encontro com nosso atual na semana que vem. (Eis que, enfim, vamos saber se era tudo mesmo sobre Bolsonaro.)


Vem comigo saber todos os detalhes do encontro inesperado nas Nações Unidas e por que eles podem se encontrar na Foz do Amazonas (aquela do Alcolumbre).

Os discursos

Ouvindo Lula e Trump na ONU, fica clara a diferença dos discursos.

Lula não citou Trump, mas deixou claro que se referia ao presidente americano quando disse que o Brasil esteve sob ataque e optou por resistir e defender sua democracia. “Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia.”

Falou do julgamento de Bolsonaro como uma mostra da força da democracia brasileira, defendeu o multilateralismo entre países (numa crítica a Trump, que agora só negocia país com país), que democracia existe também com salários iguais entre homens e mulheres, defendeu o Estado Palestino, criticou ferozmente o genocídio em Gaza e pediu compromisso sério com as metas climáticas na COP30 (rolou até um "Cuba não é terrorista"). E ainda disse que a solução para Ucrânia e Rússia não seria militar.

Trump, por outro lado, disse que a mudança climática é a maior farsa da história. Que energia verde só leva os países à falência. Defendeu a exploração do petróleo. Rejeitou o reconhecimento do Estado Palestino e disse que isso seria dar uma recompensa ao Hamas. Trump ainda criticou os países da Europa que estariam ajudando a financiar a Rússia, comprando seus produtos.

Sem contar o tanto que Trump falou mal do Brasil, falando em corrupção judicial e censura a americanos.

No improviso

Neste momento do discurso, de improviso, Trump disse que poucos minutos antes tinha encontrado Lula, que se abraçaram, e que ele gostou demais do líder do Brasil. E que isso era um bom sinal, porque ele só negocia com quem ele gosta. (Nem precisou de uma ligação.)

Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, poucas horas depois, a porta-voz do presidente americano fez questão de lembrar a todos os jornalistas que Trump reforçou que o Brasil só se daria bem se fosse na dele. (Lula terá que entregar o Xandão?)

Gênio. Mas que tipo de gênio?

Dudu Bolsonaro se apressou em dizer que Trump era um gênio e que fez isso de falar bem do Lula para sair ganhando em negociações (até outro dia nem se falava em negociações, vamos lembrar, mas tudo bem, fiquemos com a genialidade).

Paulo Figueiredo, seu amigo de lobby nos Estados Unidos, também disse que Trump era gênio, que Lula vai ficar em uma posição impossível e que tudo vai acabar com a anistia ampla, geral e irrestrita.

Bora se encontrar no Amazonas

E agora vamos saber se o rolê é mesmo sobre Bolsonaro ou se o que Trump quer mesmo é conseguir otrascositas como um certo recuo na regulação das big techs, recuo no fortalecimento do grupo dos Brics, ou um apoio inesperado em algum dos conflitos mundiais, com uma palavra de fé do Supremo.

Trump e Lula podem inclusive se encontrar na Foz do Amazonas.

Não vamos esquecer que nosso atual também tem defendido a exploração de petróleo na região, sob a desculpa de que o Brasil tem que se desenvolver (olha aí a convergência de discurso!). O rolê da Foz do Amazonas é aquele projeto de exploração de petróleo que Marina Silva é contra porque pode afetar a Floresta Amazônica. Mas, para o azar da ministra do Meio Ambiente, um dos maiores defensores do projeto é Davi Alcolumbre, nossa estrelinha-mor do Senado, que tem sido até agora um parceiro de Lula e que, desde a semana passada, resolveu discursar contra Dudu.

Para os perdidos. Lembram do PL do Licenciamento que Lula vetou em parte, mas junto fez uma medida provisória para permitir o licenciamento ambiental especial para a Foz do Amazonas? A MP ganhou hoje uma relatora no Senado, a senadora Tereza Cristina (da bancada ruralista). Sim, BRASEW, os discursos de Trump e Lula se encontram na Foz do Amazonas.

Ai, Tixa, mas o Lula falou das florestas tropicais. Claro, claro, darling. Lula anunciou lá na ONU um fundo de US$ 1 bi para um projeto de preservação das florestas tropicais. As florestas que lutem.

E se Trump ouvir Lula sobre Dudu?

Se o tal encontro acontecer, há quem acredite que finalmente Trump poderá ouvir algumas coisas diferentes do que tem ouvido sobre o Brasil. Os entendidos dizem que Lula certamente vai mostrar que tudo o que Dudu Bolsonaro tem dito por lá não é assim tão verdade.

Que o Brasil não cobra assim tantas tarifas.

Que não tem ninguém quebrando nada nas ruas para tirar Bolsonaro da prisão domiciliar.

Que o presidente do Congresso (o Davi) já disse que vai defender o Brasil contra Eduardo Bolsonaro.

Que Dudu está perdendo o apoio na Câmara e pode até ser cassado, ficando inelegível.

Que a anistia só pode ser aprovada pelo Congresso, e que o Congresso não anda assim muito a fim de aprovar a anistia.

Que a cada dia diminui a chance de ter um candidato com sobrenome Bolsonaro para presidente do Brasil.

Que Xandão, nem os outros Supremos, ficaram abalados com a Magnitsky e, pelo contrário, botaram uma pena de 27 anos de prisão para Bolsonaro.

Que o Centrão está louco para se livrar de Bolsonaro e lançar outro candidato.

Papo não vai faltar. E, enfim, ficaremos sabendo se Trump estava mesmo defendendo Bolsonaro ou estava só discursando para conseguir outras coisas.

A má fase de Dudu Bolsonaro

A semana não tratou bem Dudu Bolsonaro. Além de ter que ouvir Trump falando bem de Lula, a sequência das notícias não foi das melhores.

Huguito Motta, que está comandando a Câmara frigorífica (pero no mucho), barrou a indicação do PL para Dudu ser líder da minoria e assim manter o salário de deputado que é pago com dinheiro público, mesmo estando nos Estados Unidos.

O Conselho de Ética da Câmara decidiu abrir o processo disciplinar contra Dudu, e isso pode levar à sua cassação. Se for cassado por conta de suas articulações nos Estados Unidos, isso o tornará inelegível.

A Procuradoria o denunciou criminalmente ao Supremo por coação à Justiça.

Kassab, um dos líderes máximos do Centrão (mas ele jura que o PSD, o seu partido, não é Centrão), é o primeiro a dizer que Dudu Bolsonaro atacou os interesses do Brasil. (Vamos lembrar que Dudu ataca Tarcísio, e Kassab é secretário de Tarcísio.)

Dudu seguiu dizendo para todo mundo que ele vai ser, sim, candidato a presidente, mesmo que seu pai não o apoie e mesmo que tenha que trocar de partido.

Só digo uma coisa: Dudu que lute.

E já que rolou o maior clima na ONU, vamos ficar por aqui mesmo, BRASEW, só dando a última notinha, contando que Lula disse que Boulos vai ser seu ministro (sim, darling, já era para ter sido numa suposta reforma do começo do ano que não veio).

Quase esqueci um detalhe: os lobistas bolsonaristas nos EUA agora querem que o governo Trump tire o visto do chefe do Exército, o Thomas Paiva.

É, talvez Trump queira parar.


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