Vocês viram a cartinha do Trump? Donald J. Trump (J de João) mandou uma carta para o Lula dizendo que vai taxar o Brasil e que quer Bolsonaro livre. Mas a cartinha do Trump não é só um recado de amizade pro ex-mito: é um aviso geopolítico com impacto real no agro brasileiro e na relação comercial com os EUA.
No éNoite de hoje, a gente explica, sem enrolação, o que essa carta quer dizer (tem até a íntegra da cartinha lá no fim). Quem é só peça de vitrine, quem vai pagar a conta da tarifa, como Big Tech e BRICS entram no jogo e por que isso pode virar uma oportunidade política tanto para Bolsonaro quanto para Lula. No fim, o teatro MAGA bota o agro na linha de fogo — mas a disputa é pra ver quem se apresenta como o salvador desta conta.
Comecemos pelo teatro.
1) O teatro
A cartinha do Trump para o Lula é uma peça de teatro geopolítico:
Bolsonaro é o mártir decorativo: serve para mobilizar emoção — “coitado do líder perseguido” — mas não é moeda de troca real.
O centro da peça é Trump reforçando seu papel de defensor da “liberdade de expressão” (contra o Supremo) e do produtor americano (contra o agro brasileiro).
Para dentro dos EUA, isso alimenta a base MAGA (o Make America Great Again) com o discurso: “Eu protejo nossos fazendeiros e nossas Big Techs.”
2) Foco real: BRICS e Big Techs
A carta mistura tudo: perseguição política, censura e comércio.
O ataque ao Supremo — “ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS” — é a parte mais importante:
- Cria um caso para proteger Big Techs americanas, que hoje estão na mira de regulação e ordens judiciais no Brasil.
- O Brasil aparece como bode expiatório para dar recado à Rússia, China, Índia e África do Sul, que formam os BRICS. O medo do Trump é que esses países formem um bloco que não terá dependência dos EUA (nem da Europa) e, pior, que deixem o dólar de lado.
3) A tarifa: só econômica
A carta é clara: a retirada ou modulação da tarifa depende de: abrir o mercado brasileiro (tarifas e barreiras); permitir que empresas brasileiras construam plantas dentro dos EUA; parar de “atacar” empresas digitais americanas.
Não há uma única linha dizendo: “Se soltarem o Bolsonaro ou pararem o julgamento, a tarifa acaba.”
Ou seja, Bolsonaro é o enfeite. A pressão real é sobre a economia, as Big Techs e a posição geopolítica do Brasil (BRICS).
4) O agro no fogo cruzado
Na superfície, o texto fala de Bolsonaro, “ataques à liberdade de expressão” e tarifas sobre “todas as exportações” — sem abrir a lista de setores.
Mas, na prática, quem mais sangra de imediato é o agro, porque:
- O grosso da pauta de exportações Brasil–EUA é de commodities agrícolas.
- Esses produtos não têm como simplesmente aumentar o preço em 50% sem perder competitividade.
Então, o agro vira o grande pagador da conta, mas não é citado pelo nome — porque seria politicamente ruim para Trump aparecer como inimigo declarado do “grande celeiro do mundo”.
Por que isso importa?
É chantagem econômica disfarçada de guerra política. Ao não citar o agro, Trump evita reação direta do setor logo de cara.
O agro tem que “se tocar sozinho” de que está bancando o teatro Bolsonaro–Big Tech–BRICS.
E isso dá espaço pra base MAGA dizer: “Não é culpa do Trump! É o Lula e o STF que ferraram o mito!”
5) Como Lula pode tentar virar o jogo político
O Planalto já fala na estratégia de: “enquanto o projeto do governo Lula é taxar os ricos, o projeto dos bolsonaristas é taxar o Brasil.”
Os bolsonaristas estão jogando pesado na narrativa, inclusive com Dudu Bolsonaro, o zero três, diretamente dos States, fazendo questão de dizer que Trump está fazendo tudo isso em prol de Bolsonaro. Sabe de nada, inocente.
Se Lula se posicionar como protetor do agro, ele pode:
- Roubar uma parte da base rural conservadora, mostrando que quem defende o fluxo de exportação é ele, não o “mito” que virou pretexto para sanção.
- Usar isso para quebrar a narrativa de que é inimigo do setor — e pode até forçar a bancada ruralista a moderar o discurso anti-STF, já que a instabilidade prejudica negociações.
- Costurar acordos com os EUA para modular a tarifa (ex.: concessões pontuais sem abrir mão total do mercado interno).
- Manter apoio do agro em outras frentes: crédito, infraestrutura, escoamento.
6) O trecho-chave da cartinha
“Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos.”
Isso significa:
- Trump não negocia de igual para igual.
- Se o Brasil tentar retaliar (“ok, você me taxou em 50%, eu também vou te taxar em 50%”), os EUA sobem mais 50% por cima — criando um ciclo infinito de punição.
- É anti-reciprocidade: se o Brasil revidar, só vai perder.
7) Como Bolsonaro pode se beneficiar politicamente
Mesmo sem ter poder real para negociar tarifa, Bolsonaro pode tentar fazer colar o rolê de mártir injustiçado (e não de mártir decorativo). Assim, o bolsonarismo reforça pra base que é alvo de “caça às bruxas” e que Trump o trata como líder legítimo. Se a administração Trump for um sucesso e ele virar o maior líder mundial ever de todos os tempos, isso tem impacto político positivo para quem estiver coladinho nele.
Além disso, Bolsonaro consegue alimentar a narrativa de perseguição, mantém a militância engajada, exporta sua relevância para fora do país e pressiona o agro a cobrar Lula e o STF, jogando a culpa da tarifa no governo.
No curto prazo, isso fortalece a retórica do bolsonarismo, mas, se a tarifa realmente afetar exportações, o agro pode repensar até onde vai a lealdade.
A cartilha de Bannon seguida à risca
Aqui fizemos um comparativo da cartilha de Steve Bannon, o pai fundador da nova extrema-direita mundial, com a cartinha enviada para o Lula.
- O “inimigo interno”: perseguição e “caça às bruxas”
A cartilha de Bannon manda sempre ter um “mártir” ou “injustiçado” que encarne o “perseguido pelo sistema podre”. - Vilão institucional: o STF como “Deep State”
O bannonismo adora demonizar instituições que travam os interesses da extrema-direita: a carta faz isso ao atacar o Supremo como censor global. - A chantagem econômica
Outro ponto clássico de Bannon: “transforme pauta moral em chantagem material.” - A “base rural” como escudo
Bannon sempre mira o campo como massa de manobra. - O ataque ao BRICS
O bannonismo tem horror ao BRICS e a qualquer articulação que fure o dólar. - O “fantoche decorativo” é parte do script
Para Bannon, a figura do mártir não precisa ter poder, é um tótem de mobilização, uma narrativa viva. Bolsonaro não negocia tarifa, não resolve o agro, não faz nada. Mas serve pra gritar “estão nos perseguindo!” e distrair da realidade (quem está ganhando é o fazendeiro MAGA, a Big Tech americana e o lobby republicano). - E tem o detalhe mais Bannon de todos: a carta é desenhada para a mídia gastar dias falando de Bolsonaro — o mártir de vitrine — enquanto o foco real, que é proteger Big Tech, sangrar o agro brasileiro e sabotar o BRICS, passa quase invisível.
É isso, BRASEW. A cartinha tomou todas as nossas atenções nesta linda quarta-feira e, de lambuja, aqui vai a íntegra da tal cartinha (já traduzida, claro):
A CARTINHA
9 De julho de 2025
Sua Excelência Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República Federativa do Brasil Brasília
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
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